quarta-feira, 27 de maio de 2015

Infidelidade


Até algum tempo atrás, o homem traia mais que a mulher. Era muito mais “oficial”, muito mais declarado, mesmo porque a mulher não tinha as atividades e as funções que conquistou e que hoje fazem com que ela seja muito mais ativa dentro do contexto da sociedade. A mulher era relegada a casa e à educação dos filhos. Não era educada para ser uma pessoa ativa dentro da sociedade em que vivia. Hoje ela é forte, ativa muitas delas são responsáveis pelo lar.

Apesar dos números desta maior independência e, dessa autonomia mostrarem que homens e mulheres traem de forma parecida, hoje em dia, existem razões que nos levam a acreditar que o homem ainda trai mais que a mulher. O homem é mais instintivo e isso o leva, a saber, mentir menos, abrindo espaço para ser descoberto mais facilmente. A mulher por ser mais madura que o homem, acaba sabendo trair mais discretamente.    

O relacionamento entre homem e mulher, assim como todos os relacionamentos, existe como resultado de uma opção que se renova constantemente. A partir do momento, em que essa opção não se renova, o relacionamento também não se renova. Quando o relacionamento se sustenta por obrigação, perde o efeito e deixa de existir.
       
O homem, o indivíduo, precisa demarcar o seu território. Um comportamento típico e instintivo é o do cachorro macho que demarca o seu território urinando em pequenas quantidades por muitas vezes, diferente da fêmea que faz grandes quantidades por menos vezes. Isso acontece para que o macho possa demarcar o seu território, para que os outros cachorros machos saibam que aquele é seu território. Isso foge um pouco à realidade dos grandes centros urbanos, mas geneticamente é dessa forma que os homens fazem.
A infidelidade é também uma forma do macho confirmar a própria masculinidade.
      
Existe uma grande diferença entre homem e mulher, no sentido que a mulher se apaixona e o homem se excita. O homem pode ficar excitado sem necessariamente estar apaixonado, mas é claro que não devemos generalizar. Enquanto isso, a maior parte das mulheres, para ficar excitada, tem que estar apaixonada. Isso gera uma grande diferença no relacionamento homem e mulher e na relação de fidelidade.
       
O principio parte do fato de utilizarmos nossa mente de duas formas: a lógica, racional, que é nosso consciente e, a analógica, irracional, que é o nosso inconsciente. Ou seja, temos sempre a razão versus a emoção se defrontando.
       
Se a traição é uma questão puramente lógica e racional, pode-se trair mesmo amando o parceiro, porque a traição parte de um gesto mecânico. Quando a traição começa a envolver emoções, se torna incompatível trair, amando o parceiro e isto vale para ambos os sexos.
       
Todas as relações entre pessoas se sustentam em cima de três situações básicas: desejo, necessidade e motivação, que precisam estar sempre juntas. Quando existe só uma ou duas delas, não existe a relação. A partir daí o indivíduo trai por não ter vínculos e, aparentemente, não ter obrigações.
      
A infidelidade faz parte do gênero humano, tanto a sentimental, amorosa, sexual, assim como a infidelidade nos relacionamentos interpessoais e profissionais.
       
Cada um de nós tem um preço. Quando um profissional ganha R$ 1.000,00, satisfeito, recebe uma proposta para ganhar R$ 1200,00, começa a pensar na possibilidade de mudar de emprego. ‘E natural, instintivo, faz parte do gênero humano. Na maior parte dos casos não se consideram todos os antecedentes, tudo aquilo que foi semeado, tudo o que foi plantado, não se consideram as conseqüências, como por exemplo, começar num ambiente novo, etc., etc..
A possibilidade de ganhar um pouco mais e ter algum benefício, muitas vezes justifica  a tentação em mudar a situação existente. Isso vale também para os relacionamentos sentimentais. A pessoa trai quando acha que vai receber algum benefício, quando existe alguma falha ou falta alguma coisa no relacionamento, quando está mais carente, quando a necessidade de colo, de atenção, de carinho, de sexo não está sendo preenchida. Se nesse momento aparece alguém que estimule, que cutuque, que desperte esse desejo, essa necessidade, essa motivação, a pessoa pode trair, para eventualmente depois se arrepender de ter traído. Mas trai porque isso faz parte da natureza humana.
     
A capacidade do casal em fazer com que o parceiro ou a parceira não traia, é ligada diretamente à capacidade de renovar a opção feita e de fazer com que essa opção seja permanentemente renovada.
      
A cura para a infidelidade é preencher os vazios que podem estar acumulados nos outros, aproximando cada vez mais o desejado do possuído.
Casais que estão juntos há muito tempo, se conhecem muito bem e, aparentemente, não têm mais segredos, portanto curiosidades. A sociedade consumista desenvolveu técnicas e artifícios para que as pessoas se modifiquem, mostrando cada vez mais facetas diferentes, para manter sempre ativados os desejos e as curiosidades. Por exemplo, as mulheres se utilizam de cabeleireiros, mudando a cor do cabelo, fazendo as unhas, mudando a cor delas. Os salões de estética estão em alta. Utilizam-se cada vez mais acessórios como, brincos, colares, pulseiras, lingeries, roupas diferentes, variadas. O fato novo é que o homem também começou a desenvolver esse sentimento de vaidade e procura se renovar sempre, para fazer com que a parceira não precise procurar em outro macho, aquilo que pode encontrar nele mesmo.
       
As pessoas que vivem estas situações: ter traído ou ter sido traído, buscam ajuda de especialistas para que, em um processo de auto-conhecimento, possam se conscientizar de quem elas são, o que elas querem e o que elas podem fazer pra atingir seus objetivos. Só se alcança um objetivo quando se estabelece uma meta clara. Quando não se tem metas não há como saber para onde direcionar toda a energia e o potencial possuído e, dificilmente, vai se conseguir atingir os objetivos, rodando em círculos sem nenhuma eficácia.            

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Temos o cérebro na prisão


Por que a cada transgressão existencial nos sentimos perdidos e em conflito conosco? É nessa escolha de vida a causa dos nossos sofrimentos. Submissos como somos dos padrões e das normas que regulam a nossa sociedade, somos expostos as suas chantagens. Continuando a nos questionar sobre o que é bom ou ruim, arriscamos de viver sempre com o “Livro das regras“ nas mãos.

Ao lado do senso de culpa convivem outros sentimentos que o definem e o completam. São emoções que tendem a bloquear qualquer fantasia que nos estimule a “soltar as amarras” e a viver plenamente.

Os códigos da sociedade regulamentam a nossa vida: fazemos de tudo para que os outros nos aprovem, precisamos nos espelhar sempre em algum modelo de referência e temos sempre a idéia fixa de ficar melhor. Se a nossa vida é assim, temos os sensos de culpa sempre ativados e não temos alternativa.

Nietzsche mostra como isso tudo atinge o homem que busca a vida perfeita e sempre de acordo com todos, que ele define como “o encantamento da sociedade e da paz”.

O encantamento social que nos prende é um emaranhado de códigos, regras, proibições explicitas e não, chantagens emocionais...um mundo onde fazemos distinção entre o Certo e o Errado, onde buscamos os erros cometidos para depois nos culpar deles. Este é o resultado dos muitos modelos familiares, religiosos, culturais, que nos condicionam e que agem na nossa mente continuando nos dizendo o que é o Bem e o que é o Mal, se o nosso comportamento é aceitável ou não, se quem fica por perto aprovaria a nossa atitude ou não, dificultando ao nosso instinto sugerir como viver e ao nosso intuito de nos guiar como uma bússola entre os imprevistos da existência.

O senso de culpa do ser humano é uma consequência da separação do nosso passado, da dificuldade em conviver com ele e de novas situações conflitantes que temos dificuldade em absorver.

Na realidade o nosso cérebro é curioso, criativo e faria um continuo “zapping”, assim como na TV, entre os diversos canais da vida: quando não gosta de algo, quando é repetido, mudaria para algo novo. Nós não, não nos sentimos preparados para pular existencialmente de um canal para o outro, acreditamos de ter que respeitar sempre a imagem que demos, sem nos distanciar desta idéia. Talvez tenhamos construído com esforço e desgaste, suamos para fazer com que os outros nos aceitem e nos aprovem. É nesse momento que entra em jogo o senso de culpa para agir como um freio de mão: inibir qualquer iniciativa um pouco fora das regras, nos mantendo dentro das fileiras, fazendo com que as nossas ações sejam sempre dentro um nível conhecido,  aceito e controlável.

Existe uma grande diferença entre uma poça e o mar aberto. A primeira é feita de água “morta”, sem surpresas. O segundo é um mundo em movimento, onde as ondas, o vento e as correntezas tornam muito vivo e imprevisível o fluxo da água.

O senso de culpa tem a função de nos deixar longe do mar aberto, de não nos deixar nem conhecê-lo, de estacionar em um espaço tranquilo, onde não se machuca ninguém e se fica ali, junto com os outros. Mas é uma situação que mata a alma e a sua criatividade, que impede de amadurecer e descobrir as próprias potencialidades e autonomias para poder se separar do cardume.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Vencendo o medo de não conseguir


Muitas vezes, o medo de errar limita nossa capacidade e conseguimos menos do que esperamos. Esse medo de errar desaparece quando percebemos que a vida não é uma série de obrigações, mas um caminho de contínuas descobertas.

Todos os dias, erramos e acertamos, perdemos alguma oportunidade ou a aproveitamos. Alcançar objetivos é matar um leão por dia, e isso assusta muito.
“Precisamos perceber que não existe nada de definitivo ou para sempre, não existem fracassos permanentes.”
“Quando alguma atividade que desenvolvemos não dá certo, ao invés de ficarmos deprimidos, vamos continuar, sem ficar nos julgando permanentemente.”

Com essa atitude mental, o fracasso deixa de ser um obstáculo que compromete nossa autoestima e se torna um estímulo para melhorar cada vez mais a “pontaria” no alvo de nossos objetivos. Com aprendizado, tornamos a flecha certeira, por mais que os obstáculos estiquem nosso arco.

Quando acontece o erro, questione-se: “aonde esse erro vai me levar”?
Algumas derrotas podem ser fundamentais. Talvez não fosse a hora, talvez não fosse o rumo certo. Precisamos aprender a ler as entrelinhas dos “acasos”, pois tudo acontece porque tem que acontecer. Nós atraímos, inconscientemente, tudo o que nos fará aprender, amadurecer, crescer. Se pensarmos no que temos atraído, talvez possamos aprender com menos dor.

Chico Xavier já dizia: “Não podemos voltar atrás e fazer um novo começo, mas podemos começar agora e construir um outro fim”. A frustração por não termos conseguido atingir um alvo é natural, mas se nos limitamos a ver somente o que erramos corremos o risco de não valorizar todos os acertos, que certamente existiram. Vamos treinar a nossa sensibilidade para identificar, no meio dos resultados negativos, aquilo que existe de positivo e, a partir daí, recomeçar.

Temos que aprender a nos valorizar. A ajuda dos outros deve ser encarada, quando necessária, como uma muleta temporária, não como impossibilidade permanente de caminharmos com os nossos próprios pés. Quem quer se sentir emocionalmente cadeirante? Temos que aprender a enfrentar os desafios, valorizando os nossos próprios recursos, aceitando os medos e superando-os, sem fugir de derrotas, sem se cobrar perfeição, sem julgamentos limitantes. 
Precisamos diminuir aquela sensação de solidão e de abandono
Elas muitas vezes acompanham os distúrbios e as doenças que vivemos. Precisamos ter um olhar menos crítico, mais “bondoso” com o que consideramos nossos inimigos interiores, nossos medos, nossas dificuldades, com o que pensamos serem os nossos “defeitos”. Todos esses aspectos da personalidade, se aceitos e valorizados, acabam por constituir a nossa unicidade, aquilo que possuímos de mais precioso.

Assim como os monstros da nossa infância desapareciam com o nascer do sol, os nossos medos desaparecem quando acendemos a luz de uma nova aceitação e confiança.
Herói não é quem faz coisas extraordinárias, mas aquele que consegue viver a vida com paixão e prazer. Amar a vida, mesmo quando parece que as coisas não dão certo, renovar a confiança.

Quando se vive como vítima, não se consegue atingir a meta prefixada, não se aproveitam todos os recursos de que se dispõe: delega-se a solução do problema a quem está ao seu lado, transmite-se ansiedade e insegurança a todos que estão ao seu redor.

Temos que aprender a criar formas pensamento de prazer, de otimismo, que serão os alicerces que nos sustentarão em momentos mais difíceis. Sempre que pensamentos pessimistas quiserem pintar a sua vida com cores escuras, pegue em sua alma uma paleta cheia de cores e dê à tela dos seus pensamentos o visual que você quer para a sua vida.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Entender a ansiedade para administrá-la melhor

 
Se conseguir eliminar a palavra “porquê”, a ansiedade é eliminada facilmente.

A nossa mente inconsciente não se importa com as causas e os porquês das coisas, aliás, as enfrenta e as rejeita. Ela assume os fatos como eles se manifestam, no instante, no aqui e agora:  “Estou com ansiedade e me rendo a ela”, é a forma como a nossa mente lida bem com esse distúrbio.

A ansiedade é uma força que vem do profundo da nossa alma para nos mostrar tudo aquilo que poderíamos, tudo aquilo para que temos potencial, mas que não conseguimos porque não sabemos, não queremos nos libertar das amarras e nos deixar levar, tal qual as ondas do mar vão em direção à praia. Ansiedade é vida, toda aquela vida que o meu eu, a minha mente, não quer viver, não sabe viver. Dar espaço a esses distúrbios é se colocar complementar a si mesmo, é deixar que a energia se manifeste de dentro para fora, ao contrário do que acontece com os medicamentos, com os psicofarmácos. 

O medo nos deixa ansiosos

Todas as vezes que temos um desafio, em que vivemos uma situação nova e  que nos assusta, a tendência é resistir e, assim, desenvolver uma ansiedade cada vez maior: se pararmos para refletir, para aceitar essa situação assustadora, para entender do que se trata, para organizar os nossos recursos e poder organizar uma resposta adequada, a ansiedade deixa de existir, e a energia que ela produz vai ser aproveitada para a resposta e o sucesso.

Agindo dessa forma, aproveitamos também para nos conhecer um pouco mais, para entender as nossas limitações e para aprender algo mais sobre nós mesmos, para poder atingir cada vez melhor novos objetivos e desafios.

Devemos deixar de alimentar os fantasmas do passado, aceitar que não conhecemos o futuro que nos espera e aceitar de forma serena e tranquila o nosso presente, vivendo-o intensamente, nos tornando cada vez mais eficazes: não tenho futuro e não reconheço o meu passado!

É muito importante entender por que o mundo de hoje é ansioso

Vivemos projetados no futuro, nos fiscalizamos continuamente para saber como anda o nosso desempenho, vivemos de forma sempre mais controlada, e quanto mais nos controlamos, mais nos dizemos como temos que ser, como temos que fazer e cada vez mais alimentamos a ansiedade, a busca do domínio sobre nós mesmos, e isso se torna um processo cíclico que se autoalimenta.

Precisamos deixar de querer entender, precisamos nos deixar levar, confiar no nosso potencial e aumentá-lo cada vez mais, conforme nossa capacidade, sensibilidade e experiência. A ansiedade vencida é como o mar que continua livre, solto, que corre por baixo dos nossos pés, sem parar, sem ficar represado na lagoa dos nossos pensamentos.

Ser ansioso ou estar ansioso: muda muito

Vamos entender as diferenças. Frente a situações específicas, não experimentamos a ansiedade, mas estamos ansiosos”, ou seja, admitimos o estado de alerta e de preocupação como a forma natural de lidar com o que está acontecendo. Assim, uma entrevista de emprego, uma prova ou um encontro com alguém que nos interessa pode ativar a mesma reação, ou seja preocupação, medo, pensamentos catastróficos, ideias obsessivas, dúvidas, e também taquicardia, sudorese, diarreia...

Da mesma forma que a ansiedade patológica não é fruto somente de um simples desequilíbrio dos neurotransmissores, possui também a sua função e sua utilidade: quando aparece de forma aguda, mostra um conflito, um nó a ser desatado ou simplesmente uma sobrecarga emocional; se a ansiedade se fixa como um estado crônico, estamos nos deparando com um distúrbio que depende da forma como nos vivemos o nosso dia a dia.

O que nos torna ansiosos é exatamente aquilo que nos parece imutável, óbvio, normal e que, de fato, é um modelo da realidade artificial e arbitrária, que torna o fluir da energia um percurso acidentado.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Mude suas emoções, mude a sua vida

 
Entrar por um caminho estreito, prejudicar soluções, colocar-se em uma gaiola: isso é ansiedade. Todos somos um pouco estressados! Mas não é difícil mudar os rumos da nossa vida, é suficiente uma mudança na forma de pensar e de viver as situações que nos envolvem. É normal na vida querer subir, fazer carreira, progredir, mas muitas vezes as pessoas não percebem o que deixam para trás para conseguir isso: tudo parece evoluir muito bem, mas sem uma estrutura firme e bem alicerçada, de repente, a pessoa acorda ansiosa, cheia de medos, insegura, inquieta, agitada, repetindo a fala “não aguento mais”, sem saber a quem recorrer e como resolver. 

O oposto de angústia é criatividade

Uma das falhas mais evidentes nesse processo evolutivo e desgastante é a perda da criatividade por parte do indivíduo. Se a criatividade se apaga e se afasta da nossa vida, nenhum sucesso profissional pode nos compensar. Se não exerce o novo, o cérebro se torna árido, e todos os males começam por aí. A pessoa se torna unilateral, vivendo somente casa, trabalho, sucesso e resultados a alcançar, esquecendo-se dos hobbies e das diversões de que gostava anteriormente. Isso acontece quando há um desequilíbrio na nossa mente, entre o nosso desejado inconsciente e o possuído real. Muitos dos pacientes que sofrem de ansiedade, quando indagados, relatam que perderam as paixões por algo gostoso e bom na vida antes do problema: por isso estão tão mal. Entraram por um caminho estreito. A ansiedade aparece para ajudá-los, aparece do mais profundo do inconsciente para avisar para não deixar de lado a própria essência, a afetividade que é a base da vida.

Muitas vezes, quando se aproxima a data de um vencimento, como uma prova, um exame, casamento, as crises de ansiedade são cada vez mais intensas e frequentes, às vezes se transformando em ataques de pânico. Isso acontece quando – por mais que em nível consciente, lógico e racional saibamos que aquela situação é a certa – percebemos que algo dentro de nós, inexplicável, não está de acordo, dando espaço a uma profunda inquietude. Quanto mais forte a convicção, mais forte a inquietude; quanto mais se pensa no evento, mais intensos os sintomas: os pensamentos levam sempre a gaiolas, das quais fica cada vez mais difícil sair. Por exemplo, no caso da paciente X, quando pensava no casamento dela, achava que era a coisa certa a fazer, que não poderia cancelá-lo; o que iriam pensar os convidados, seus pais, os amigos? Quando chegava à consulta, em estado hipnótico, a levava a imaginar... imaginar. E ela conseguia visualizar a si mesma feliz, com o vestido de noiva, mas com um outro homem. O anterior a esse, do qual gostava tanto. Durante uma sessão, disse-me que não tinha a menor atração pelo homem com o qual iria se casar, era atraída pelo outro. A ansiedade a salvou: lembrou-a que podemos escorregar e estragar nossa existência para seguir modelos externos e atender às convenções, que são um grande estreitamento para a alma. Não se casou e teve alta.

Precisamos seguir a nossa intuição, deixar a energia se manifestar de dentro para fora, ouvir a voz da nossa consciência

Muitas pessoas sofrem por antecipação, vivem a sensação do “medo de ter medo”, pondo em ato um processo que chamamos de evitação: por medo de viver uma crise de ansiedade ou de pânico, a pessoa limita cada vez mais o próprio raio de ação, evitando todas aquelas situações que considera de risco. Desenvolve assim o medo de ter medo: isso não ajuda a diminuir os sintomas, pelo contrário, cria outros. Muitos dizem que, vivendo trancados em casa, acabam por serem vítimas de pensamentos obsessivos intoleráveis, como o desejo de machucar as pessoas mais próximas ou a si mesmo, desenvolvendo assim o medo dos próprios pensamentos. No ser humano, todas as situações consideradas “perigosas” são acompanhadas por respostas fisiológicas bem precisas, como o aumento do batimento cardíaco ou da sudorese, e por respostas psicológicas, como focar a atenção sobre a fonte do perigo ou a tendência a fugir. 

A ansiedade nada mais é do que o conjunto desses mecanismos

A síndrome ansiosa possui uma forte base biológica, desenvolvida durante o processo evolutivo, que permitiu ao gênero humano enfrentar as situações arriscadas para a sua sobrevivência. A ansiedade patológica surge no momento em que esse nosso sistema de defesa se ativa na ausência de um perigo real. Isso pode acontecer porque os neurotransmissores entram em ação mesmo em caso de leves tensões, ou porque o cérebro erra e considera como arriscados sintomas mais inócuos. As últimas pesquisas identificaram numa especifica área do cérebro, o locus coeruleus, a sede dos processos ansiosos: é nessa área que é regulada a atividade de alguns hormônios e neurotransmissores capazes de aumentar ou inibir a excitabilidade do sistema nervoso e o seu nível de reatividade.

Como vimos acima, a ansiedade não é uma doença por si só, mas muito mais um sintoma ligado a várias patologias de natureza fisiológica ou psicológica. Pela medicina, existem algumas patologias que caracterizam os “distúrbios da ansiedade”: as fobias, o transtorno do pânico, o transtorno da ansiedade generalizada, o transtorno obsessivo compulsivo, o transtorno pós-traumático de estresse e o transtorno agudo de estresse. Trata-se de situações que têm uma raiz em comum, mas que se desenvolvem com dinâmicas muito diferentes entre si.

As fobias são desencadeadas por um medo sem razão e muito intenso para com um objeto bem específico. O transtorno obsessivo compulsivo é um transtorno da ansiedade no qual a mente é invadida por pensamentos persistentes e incontroláveis, ou quando a pessoa é levada de forma irresistível a repetir continuamente certos atos. A ansiedade ligada ao estresse é provocada por ter vivido um evento ou um conjunto de situações especificamente estressantes ou traumáticos que mantêm seus efeitos mesmo após terem acabado. O transtorno da ansiedade generalizada e o transtorno do pânico são as formas mais comuns dentre as patologias ligadas à ansiedade, e são também as formas mais ligadas ao estilo de vida ocidental.

A seguir, algumas dicas práticas para vencer a ansiedade e o estresse da vida cotidiana, utilizando o recurso da imaginação para mudar as perspectivas e iniciar a ver as coisas de forma diferente:
Você está estressada porque olha somente para o lado mais negativo das coisas. O erro está em dedicar toda a atenção somente aos problemas, às coisas que não vão bem e em como corrigi-las. Dessa forma, o que acontece? Ocorre que você as amplifica e tira espaço daquilo que lhe faz bem. Se conseguir desviar e mudar o foco, vai conseguir mudar tudo. Em vez de procurar soluções mais ou menos distantes, experimente “estar aqui”, sem se cobrar algo. Olhe ao seu redor. A mente vai se libertar e vai começar a perceber muitas pequenas mudanças, muitas surpresas. São faíscas que reacendem forças que nem imaginava possuir. Experimente se questionar: o que não estou conseguindo expressar? 

Você é realmente você mesma somente nas coisas que consegue de forma natural. A partir dai, à medida que conseguir dar mais importância às suas intuições, às suas ideias, às suas iniciativas, à sua vida, vai conseguir afastar o cansaço e a ansiedade. Solte a sua imaginação deixando-se levar por ela. Uma força desconhecida e incontrolável o criou, o moldou e o desenvolveu. O problema é que você a colocou de lado: use as imagens e a sua capacidade em se deixar levar para deixá-la voltar a ser protagonista e reencontrar a felicidade.

Como em todas as situações mais difíceis, pode aproveitar os recursos que a medicina lhe oferece e, com a ajuda do médico, vai poder se entender melhor e treinar mais, até encontrar as soluções para se sentir em perfeito equilíbrio físico e emocional. A Hipnose Dinâmica é uma alternativa válida, uma vez que o processo terapêutico se utiliza dessa ferramenta para proporcionar um profundo estado de concentração e assim possibilitar o contato com o inconsciente, ou seja: com todas aquelas emoções que não passam pelos crivos e censuras da sua mente consciente.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Sensação de desamparo




Muitos adultos sofrem com o medo do desamparo de forma tão forte que isso faz com que se manifestem como crianças amedrontadas, fagocitando as relações que criam, até que, inconscientemente, obrigam seus parceiros a se comportarem da única forma que realmente querem evitar: abandonando-os.

Trata-se de uma verdadeira síndrome que, quando presente, tem uma dinâmica compulsiva que não deixa espaço: a pessoa racionalmente sabe que esse sentimento é destrutivo e sem sentido, mas, do ponto de vista emocional, não identifica opções para se comportar de modo diferente.

O que pode destruir indivíduos adultos de forma tão intensa e radical, ao ponto de não deixar com que eles vivam uma vida racional e tranquila? Em geral, pessoas que sofrem com esse tipo de comportamento são habilidosas e confiáveis, mas que, quando se apaixonam, tornam-se vítimas de medos, dúvidas e inseguranças.

Quem vive essa sensação mostra que tem carências em sua estrutura interna, que deixaram uma sensação de incerteza na capacidade de se aguentar e de se alimentar emocionalmente, sem delegar a outros essa tarefa.
Normalmente, quem sofre com esse sentimento de desamparo vive uma situação de verdadeira fome, produzida pela sensação de não ter sido suficientemente alimentado do ponto de vista afetivo e emocional.
 
O medo de ficar sozinha

Estamos falando de uma patologia que diz respeito à capacidade de se cuidar e de se sentir suficientemente alimentado – mesmo quando o outro não está presente fisicamente –, a capacidade/dificuldade de perceber os próprios recursos, o próprio potencial, a própria capacidade, ainda mais quando sozinho.

Essas pessoas são sobreviventes de grandes problemas originados na fase infantil, quando não se sentiam suficientemente protegidas e contidas, não desenvolvendo, assim, aqueles alicerces de segurança e confiabilidade que lhes permitiria sentirem-se estáveis e seguras por dentro, donas dos recursos necessários para poder enfrentar perdas, sentir-se em condições de poder encarar com as próprias forças ansiedades e dramas emocionais.

A sensação de continuidade e a percepção de poder confiar, contando com uma solidez emocional e uma boa autoestima, são fundamentais para que se possa estruturar um mundo interior estável, que supere o medo do desamparo. A pessoa que sofre dessa sensação tem um grande pavor de ficar sozinha, e vive essa eventualidade como uma real e verdadeira morte.

Dessa percepção de vazio e de fragilidade interior nascem todas as dinâmicas de defesa que se concretizam com o intuito de evitar que o parceiro possa ir embora. As estratégias utilizadas são o grude, a manipulação e o excessivo senso de fragilidade. Essas atitudes dão vida ao hipercontrole e à chantagem emocional e, tudo isso, para evitar o que mais assusta: a perda. Em outras palavras, essas pessoas desenvolvem uma grande dependência afetiva que as coloca também no papel de vítimas, mesmo de forma inconsciente, que serve para chamar a atenção dos outros.

A dependência é difícil de ser encarada 

E em qualquer nível que se manifeste, e aquela afetiva ainda mais. Tais pessoas sofrem de desvalorização e de carência de estrutura, comportando-se de forma egocêntrica, acreditando nunca terem suficiente atenção do outro e do mundo.

 
São pessoas que tendem constantemente a dramatizar, e qualquer pretexto desencadeia a vítima interior que ativa o desejo de atenção. Podem se apresentar num duplo papel, de vítima e de salvadora: os dois extremos possuem a mesma problemática de base e, quando se encontram, podem dar vida a uma relação complexa e grudenta, em que não existe liberdade para nenhuma das duas partes envolvidas. 

Como ambos os indivíduos são dependentes, viverão um círculo vicioso, no qual um será a criança necessitada e o outro será o pai cuidador: um fará mais pelo outro, se sentirá forte e importante, enquanto o outro perceberá todos os holofotes em cima de si. 

Expectativas e frustrações

Esse modelo de relação é fadado a entrar em crise a partir do momento em que a mente de ambos os parceiros não se satisfizer com essa solução e quiser resolver essa dependência, deixando aflorar sinais de insatisfação e de infelicidade que produzirão uma crise.

Existem algumas características interessantes e muito evidentes nessa tipologia de pessoas – algumas visíveis também na própria postura –, que muitas vezes têm as costas meio corcundas, um corpo hipotônico, com as costas mais caídas do que o normal. Existe o medo de tomar atitudes, de tomar decisões, originário da preocupação em prejudicar a atenção do outro. Existe a contínua necessidade de pedir opiniões e sugestões que depois nunca vão ser seguidas, porque para elas não interessa o conselho, mas sim o suporte que obtém dessa forma indireta. Existe também o medo de largar as coisas, e o dependente usa muito frases como “preciso mesmo ir”, “preciso te deixar”, que demonstram sua real dificuldade em se desligar de qualquer coisa, pessoa ou situação.

No fundo, o que mais os assusta é a solidão e, para evitá-la, acabam se envolvendo em situações e relacionamentos trágicos, vivendo muito sofrimento que, para si, parece ser sempre menos dramático do que aquele consequente ao desamparo e à solidão que acreditam não conseguir gerir.

A solução dessa sensação de desamparo ocorre por meio de um processo terapêutico que dê sustentação e suporte até que a pessoa encontre dentro de si os recursos necessários para enfrentar as dinâmicas emotivas das quais tem tanto medo, e que acredita não conseguir suportar. Terapia como um momento, um espaço em que o paciente pode se defrontar livremente com a sua realidade, sem medo de censuras, julgamentos, cobranças e críticas. Desse debate interior, aflorará uma estratégia de vida que deve ser seguida, aproveitando a supervisão e a orientação do terapeuta, que ajudará a manter o caminho certo, sem se desviar dele.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Depressão


 
A depressão é um distúrbio afetivo que acompanha a humanidade ao longo de sua história. A tristeza é um sentimento normal e importante, porém quando vivenciada por um período prolongado e que interfira no funcionamento do paciente, passa a ser patológica.

No Transtorno Depressivo há presença de tristeza, falta de prazer nas atividades, pessimismo e baixa autoestima, além de outros sintomas (abaixo), por um período mínimo de 15 dias e que tragam algum prejuízo na rotina do paciente. É imprescindível o acompanhamento médico tanto para o diagnóstico quanto para o tratamento adequado.

Causas: A depressão é uma doença. Há uma série de evidências que mostram alterações químicas no cérebro do indivíduo deprimido, principalmente com relação aos neurotransmissores (serotonina, noradrenalina e, em menor proporção, dopamina), substâncias que transmitem impulsos nervosos entre as células. Outros processos que ocorrem dentro das células nervosas também estão envolvidos. Ao contrário do que normalmente se pensa, os fatores psicológicos e sociais, muitas vezes, são consequência e não causa da depressão. Vale ressaltar que o estresse pode precipitar a depressão em pessoas com predisposição (genética). A prevalência (número de casos numa população) da depressão é estimada em 19%, o que significa que aproximadamente uma em cada cinco pessoas no mundo apresenta o problema em algum momento da vida.

São sintomas de depressão:

• Humor depressivo ou irritabilidade, ansiedade e angústia

• Desânimo, cansaço fácil, necessidade de maior esforço para fazer as coisas

• Diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer em atividades anteriormente consideradas agradáveis

• Desinteresse, falta de motivação e apatia

• Falta de vontade e indecisão

• Sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero, desamparo e vazio

• Pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa autoestima, sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, ruína, fracasso, doença ou morte.

• A pessoa pode desejar morrer, planejar uma forma de morrer ou tentar suicídio

• Interpretação distorcida e negativa da realidade: tudo é visto sob a ótica depressiva, um tom "cinzento" para si, os outros e o seu mundo

• Dificuldade de concentração, raciocínio mais lento e esquecimento

• Diminuição do desempenho sexual (pode até manter atividade sexual, mas sem a conotação prazerosa habitual) e da libido

• Perda ou aumento do apetite e do peso

• Insônia (dificuldade de conciliar o sono, múltiplos despertares ou sensação de sono muito superficial), despertar matinal precoce (geralmente duas horas antes do horário habitual) ou, menos frequentemente, aumento do sono (dorme demais e mesmo assim fica com sono a maior parte do tempo)

• Dores e outros sintomas físicos não justificados por problemas médicos, como dores de barriga, má digestão, azia, diarreia, constipação, flatulência, tensão na nuca e nos ombros, dor de cabeça ou no corpo, sensação de corpo pesado ou de pressão no peito, entre outros.

segunda-feira, 11 de maio de 2015


Vazio




Existem ações, gestos, atitudes e pensamentos que nascem da nossa essência, da nossa interioridade, de forma espontânea: podem parecer sem sentido, porém, são perfeitos, porque permitem à nossa essência, à nossa natureza, emergir.

O indivíduo precisa aprender a curtir o “vazio, o nada”, esses espaços que existem dentro de nós. Saber que o melhor pode se manifestar deste instante específico. Quem sofre de insônia, de ansiedade, de pânico, pensa muito, pensa demais. Fica preso num rodamoinho e perde a possibilidade de escolher o que deve ou não fazer parte de seus pensamentos. Tem a sensação de que é incapaz de lidar com essa força involuntária que desencadeia sensações incômodas. Pensamento é energia e, como tal, podemos qualificá-los.

Em primeiro lugar, temos que nos colocar na posição de observadores
Observar já cria um distanciamento, a percepção de que não somos aqueles pensamentos. O segundo passo é sentir que existe um intervalo entre eles, um silêncio fértil que é nossa essência, lugar onde tudo “é”, simplesmente, sem precisar ficar se explicando. A partir daí podemos sentir o rodamoinho se desfazendo e tomamos consciência da falta de consistência de tudo o que os pensamentos estavam criando. Enfim, entendemos que não podemos deixar que uma energia mal qualificada invada o nosso espaço de paz.  “Isso não me pertence”, é uma chave mágica que abre, cada vez mais, as portas de nosso silêncio interior. É um processo simples, mas precisa de treinamento. Não temos o hábito de observar o que pensamos, não sabemos que podemos escolher o que pode ou não fazer parte da nossa vida nesse campo sutil. Precisamos aprender a substituir um pensamento que nos faz mal por um outro que nos dá prazer.

A cura se manifesta quando aprendemos a reciclá-los
“Isto é bom, isto é ruim, este eu quero que faça parte de mim, aquele não”. Temos que nos perguntar sempre: como me sinto com este tipo de pensamento? Feliz? Corajosa? Serena? Relaxada?  Se a resposta for sim, aceite-o. Caso contrário observe o rodamoinho se desfazendo ao dizer: este pensamento não me pertence, não permito que ele ocupe o meu espaço porque eu me amo, me respeito e mereço ser feliz!
Essa postura tem que se tornar um hábito. Você já reparou que temos uma tendência muito maior a entrarmos em sintonia com ondas de pensamentos incômodos? Vamos mudar nossa frequência, isso fará toda a diferença!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Meia idade




A maturidade é o tempo das responsabilidades materiais, como o trabalho, a família e as relações afetivas. Nessa fase, os objetivos que o indivíduo definiu deveriam ter sido alcançados. Normalmente a pessoa tem uma atividade profissional estável, não tem mais grandes lutas para chegar. Economicamente a situação é em geral mais tranquila. Afetivamente, os projetos são a longo prazo, e os investimentos são maiores nessa esfera. O que caracteriza essa fase da vida é o sentido da “responsabilidade”, que é posta em pauta em todos os aspectos: no trabalho, sobre a capacidade de gerir uma função profissional, nos aspectos econômicos, assim como nas situações familiares. Existem responsabilidades materiais com os aspectos práticos da vida, compras, vendas de bens, gestão da casa etc. Existem responsabilidades afetivas, na escolha de manter uma relação de casal estável, mesmo sem chegar ao casamento.

Existe também uma responsabilidade paternal, no sentido de existir a possibilidade primeiro emocional e depois real de ser pai, tanto para quem já tem filhos e enfrenta os prazeres e dores de criá-los como para quem está elaborando a escolha de não tê-los ou a dor de não os poder ter. 

Os inimigos da autoestima nessa fase da vida estão nas situações mencionadas acima. 

No trabalho, o peso das responsabilidades: lutou tanto para chegar a ter o status profissional e, agora que possui tudo o que desejava, não consegue manter o ritmo. Administra tudo dando o máximo de si, mas paga o preço de não ter mais energias para o resto: não consegue cultivar as amizades, nem mesmo uma relação afetiva estável. Sente-se sozinho e avalia o próprio valor em função dos objetivos que alcança. Outra manifestação é com a insatisfação com o próprio trabalho: trabalhar serve somente para ganhar dinheiro e poder fazer aquilo que gosta. Mas passar o dia inteiro fazendo algo que não curte muito começa a se tornar difícil de sustentar, e o indivíduo começa a se sentir muito frustrado. Não percebe alternativas, e na realidade nem as procura: a sua autoestima decai e começa a ter a sensação de que não vai poder continuar assim por muito tempo. Outra situação é quando não se sente realizado profissionalmente: estudou durante muitos anos para poder desenvolver a atividade dos sonhos, mas até hoje está ainda engatinhando. A sensação é de não chegar nunca e, dia após dia, suporta a injustiça do mundo e dos colegas, alimentando sempre projeções para o amanhã e sonhos de vingança. 

Amor x baixa autoestima

Na relação de casal, uma das situações que alimentam a baixa autoestima é o fato de o indivíduo ser ainda “single” contra sua vontade. O fantasma de ficar sozinho a vida toda começa a ser cada vez mais presente nos seus pensamentos e, junto com ele, a ansiedade de ter que fazer algo para reparar isso: toda vez que sai, o objetivo é encontrar alguém; quando encontra, não vive livremente esse momento, está sempre avaliando se o outro merece o seu tempo. Resultado? Todos fogem, e você fica sempre mais sozinho, firmando cada vez mais a ideia de que não merece o amor de alguém. Outra manifestação na relação de casal é não ter uma relação feliz: vive uma relação há muitos anos e sente que, mesmo que os dias passem sem prazeres nem cumplicidades, não pode mais mudar de ideia. Por outro lado, muitos dos seus amigos vivem uma relação parecida: justifica isso dizendo que o amor e a paixão acabam com o tempo, deixando espaço a um afeto mais brando. O problema é que o seu corpo, mais sábio, não acompanha a sua racionalidade, e denuncia o mal-estar com uma série de somatizações: cefaleia, distúrbios sexuais, ansiedade, nervosismo, insônia, falta ou excesso de apetite etc. Outra situação é quando o parceiro trai: raiva, desilusão e cinismo são os ingredientes que essa situação cria em você e que abalam sua autoestima profundamente.

Todos se sentem na obrigação de lhe dizer o que fazer, e você não consegue entender o que realmente deseja. Perdão? Vingança? Fuga? Muitas perguntas sem respostas, mas finalmente uma dúvida cruel, que põe fim à sua autoestima já muito abalada: “Se fui traído, talvez tenha sido por merecer”. A relação na qual acreditava acabou: tinha feito muitos planos, alguns postos em prática: a casa, o casamento, os filhos. Improvisadamente sente-se sozinho, como acordando bruscamente de um sonho. É uma realidade que dá medo. Como recomeçar? Onde errou? Quem vai te querer agora? Como perceber quem será a pessoa certa? Os sentimentos de culpa e a sensação de fracasso completam a obra, e a dificuldade maior é encontrar um sentido no que aconteceu.

Na relação com os filhos

Sentir-se culpado por achar não ter conseguido criar um bom relacionamento com os filhos é uma ameaça para a boa autoestima. “Não consigo ter filhos.” Tentou de todas as formas. Talvez nem tenha uma causa física, mas nada de engravidar. A vida inteira ouviu dizer que a mulher se realiza plenamente quando tem filhos, e isso não a ajuda. Aliás, sente-se inadequada, com muitas perguntas e dúvidas, e isso gera uma ansiedade cada vez maior; nem consegue aceitar que sua vida é valiosa, mesmo sem ter filhos. “Não sou um bom pai.” Filhos rebeldes ou com dificuldade na escola? A resposta é que não serve como pai. Mesmo que tenha feito o melhor para que tudo desse certo, culpa-se porque tem pouco tempo para dedicar aos filhos, culpando assim também suas atividades. Se o parceiro tenta minimizar o fato, sente ainda mais o peso da responsabilidade nas costas. “Sinto-me abandonado pelos filhos que se tornam adultos.” Tudo deu certo até que os filhos precisavam de você. Mas, agora que estão crescendo, que se tornam cada vez mais autônomos e não dependem mais dos pais, você se sente inútil. Ser pai era visto como sinônimo de “dar”, e agora, junto ao prazer de ver os filhos se tornarem adultos, o medo de perdê-los e de não servir mais para nada é cada vez mais presente.

A crise da meia idade é um momento crítico com o qual todos vão ter que lidar

A vida parece ser sempre a mesma, e a pessoa sente a necessidade de fugir dos hábitos, da rotina. O parceiro que conhece há muito tempo não reserva surpresas nem fortes emoções. E você? O corpo não tem mais a energia de um tempo: as rugas, a barriguinha, os cabelos grisalhos não somem da sua frente. Parece que não gosta de mais nada de você, nem dentro nem fora. É muito fácil nesse momento da vida achar que pode resolver a crise com algumas folias: uma atitude inconsequente no trabalho, um amante, a compra de algo caro e luxuoso... Seja bem-vinda à folia saudável, se isso te permite manter ao longo do dia uma postura consciente de leveza. Mas o perigo existe quando essas atitudes são uma fuga da realidade, perigosas e difíceis de gerir, que, quando voltar à real, podem fazê-la se sentir pior do que antes.

A menopausa é considerada como o fim da vida fértil, mas, para muitas mulheres, representa ainda um momento dramático da própria vida, um momento a ser postergado o máximo possível, mesmo recorrendo a fármacos. Muitas mulheres ignoram o sentido mais simbólico da menopausa: a mulher passa da capacidade de gerar um filho à possibilidade de elevar a própria energia e se abrir para uma capacidade de gerar bem mais ampla. A sexualidade, liberada finalmente do risco da concepção, pode ser vivida com maior leveza e espontaneidade.

Na prática: viver o prazer pelo prazer

Uma happy hour com os amigos antes de voltar para casa? Por que não? Fazer amor de manhã logo após acordar antes de ir ao trabalho? Por que não? Sim, não resista! Viva o presente! Quem quiser ser feliz, seja. Do amanha não se tem certeza. Gozar das coisas boas não cansa, aliás, descansa o cérebro e o regenera. Esvaziando a mente, o prazer elimina as recriminações e ativa as áreas cerebrais que produzem bem-estar. Viva as situações imprevistas como algo bom, que pode agregar coisas boas à sua vida. Elimine as frases em “negativo”, as frases em “absoluto”, os “porquês”, os verbos no “condicional”. Evite se comparar com o passado, evite as promessas para o futuro. Mude sua imagem: às vezes, estamos muito presos a uma imagem antiquada de nós mesmos. Roupas, acessórios, penteado novo ajudam a fazer com que nos sintamos bem desde o começo do dia. Vestir a roupa que mais gosta, fazer isso por si mesmo, para se gostar cada vez mais.