segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Afinal, por que mentimos?


De acordo com o dicionário Howaiss, mentira significa “dizer, afirmar ser verdadeiro (aquilo que se sabe falso); dar informação falsa (a alguém) a fim de induzir ao erro, não corresponder a (aquilo que se espera); falhar, faltar, errar, causar ilusão a; dissimular a verdade; enganar, iludir, não revelar; esconder, ocultar”. Tais definições, no entanto, pouco dizem sobre os porquês da mentira. Por isso, vamos apresentar uma definição relacional (que leve em consideração o seu contexto).

As pessoas vivem 25% do próprio tempo mentindo. Esse é um consenso entre todos os que lidam de forma direta e indireta com o assunto. Na comunicação não verbal, ou seja, na linguagem das emoções, a mentira é percebível de forma mais simples do que na comunicação verbal. Quando utilizamos a comunicação verbal, a palavra, podemos mentir e omitir, dependendo de qual for o nosso interesse; em função da nossa habilidade, treino e sensibilidade, conseguimos atingir o nosso objetivo com uma certa facilidade. Na comunicação não verbal, a emoção, é possível identificar a mentira a partir da observação de um bom técnico em comportamento humano e em comunicação não verbal.

Quanto mais existe a necessidade de melhorar a imagem de si, ou de criá-la, mais as pessoas mentem
Difícil identificar um perfil específico do mentiroso, do mitomane puro, mas se procuramos nas várias transformações culturais ao longo das gerações passadas, encontramos desde a Eva que mentiu para Adão sobre ter comido a maçã, continuamos com mestre Geppetto e
Pinocchio, com o nariz que cresce, a Cuca que vai pegar... 

As pessoas mentem para se defender, mentem para se proteger, mentem para ter vantagens e serviços que nunca são conforme o prometido. A mentira tanto pode ser um meio como pode ser um fim para situações conflitantes. Ela deixa de ser ocasional, esporádica, para se tornar habitual e parte do contexto de vida das pessoas, provocando sofrimento e desgaste físico e emocional, além de gerar problemas jurídico-legais. O indivíduo mente desde a infância. Se tiver essa afinidade, mente para esconder um comportamento contrário à vontade dos pais ou da autoridade do momento, escola, padre da igreja, confissão, comunhão... Crescendo, mente para se sentir “up to date” com os amigos, sobre o desempenho sexual com o outro sexo, mente para passar a ideia de ser mais, de ter mais, de poder mais, porque assim acha que vai ser mais aceito e menos rejeitado. Dessa forma, seria um indivíduo que, pela própria carência, pela baixa autoestima, vive mais de aparência do que de realidade, perdendo pela transparência. 

Às vezes, para aquele jovem imaturo que quer recomeçar e assumir a sua fragilidade e retomar a viver uma realidade verdadeira, esse resgate é complicadíssimo, às vezes inviável, visto o emaranhado de sequelas, impressões e danos que a mentira, a mitomania gerou, e das quais não consegue mais se livrar, por ter perdido em algum lugar e em algum momento o “fio da Ariadne” que possa levá-lo a enfrentar o labirinto e vencer o Minotauro. 

A pessoa mente sem alguma necessidade, pelo simples prazer de achar, se iludir de ter tirado alguma vantagem ou benefício por meio da mentira: o maior cuidado é conseguir lembrar e não esquecer todas as mentiras e nuances delas para conseguir “manter o nível”.

E o mentiroso compulsivo?

Ele se aproxima mais da personalidade psicopata, quando no máximo do exagero da sua mentira: usa suas habilidades para tirar proveito, sua malícia. Não sente amor, vergonha, culpa, remorso. Busca somente o seu egoístico e solitário aproveitamento por meio de recompensas e gratificações imediatas. Com o passar do tempo e com o piorar do quadro patológico, o mentiroso compulsivo pode se transformar em um esquizofrênico paranoide, achando que é Napolão e/ou que é alguém que veio ao nosso mundo com a missão de nos salvar.

A personalidade do mentiroso, seja em qual idade for identificado, é de uma pessoa carente, frágil, com baixa autoestima, sempre ligado em querer agradar aos outros e ser aprovado por eles...

A teatralidade obrigatória para atender critérios de boa educação, cumprimentando pessoas que não interessam, acompanhando pessoas pelas quais vive um sentimento empático negativo, trazem aparentemente ganhos para o mentiroso e pela formação dele, rápida, superficial
e egoísta, mas, no final, o preço e o desgaste são imensos e a um custo elevadíssimo.

O caminho mais indicado hoje em dia é a TCC

Ou seja: a terapia cognitiva comportamental, porque ajuda o paciente a ter que se defrontar com a realidade dele, distorcida, versus uma realidade mais em sintonia com os fatos da sociedade na qual o indivíduo vive.
Conforme o peso da mentira, o indivíduo se incorpora a ela, acreditando ser e poder aquilo que a imaginação dele criou e permite alimentar, a ponto de tudo se tornar normal e natural. Não sendo descoberto e grudando cada vez mais no contexto, vai viver feliz, contente e realizado.

Grande responsabilidade é dos pais, que, desde a infância, dos filhos não conseguiram, não souberam, não quiseram definir e impor limites a eles para que crescessem dentro de limites e regras, não se tornando crianças inseguras, com baixa autoestima e, portanto, com enorme dificuldade de viver uma vida autônoma.

Dependente químico mente, querendo passar a ideia de estar abstinente, limpo, apesar das evidências contrárias. Precisamos estar atentos quando aparece um paciente, muito ágil, ligeiro, inteligente, que quer tirar vantagem.

Vendedores precisam mentir ou omitir para valorizar seu produto, assim como para sustentar situações e interesses criados por meio da mentira, e sempre haverá necessidade de mentir mais. Muitas vezes, o esforço maior é para sustentar essa mentira, e o quadro se tona como bola de neve, algo pequeno, mínimo, ao longo do tempo se torna algo enorme, complexo, do qual e muito difícil chegar à origem e à essência.

A cada ação corresponde uma reação igual e contrária: se a criança aprende que vai ser repreendida depois de fazer algo errado, vai aprender naturalmente a se proteger mentindo. Dessa forma, começa a desenvolver-se um adulto inseguro e mentiroso, que desde pequeno terá dificuldades de enfrentar as verdades e as realidades da vida, com as suas consequências.

Falsos elogios também podem ser considerados como mentira, desculpas exageradas e difíceis de serem acreditadas, assim como as “mentiras brancas”, ou seja, aquelas mentiras para justificar situações inocentes, como não querer atender alguém e mandar dizer que estamos ausentes etc.

Formas de ajudar os mentirosos a corrigir essa falha começam com exemplos, mostrando como é muito mais simples enfrentar uma verdade, por pior que possa ser, do que ter que conviver com o peso da mentira e com todas as consequências que isso acarreta.
Terapeuticamente, a TCC, terapia cognitiva comportamental, é a abordagem mais indicada, porque, por meio de exemplos e demonstrações, ajuda o paciente a aprender a enfrentar a sua realidade, reagir a ela e aprender a se assumir, melhorando a própria autoestima e vivendo a vida da forma mais simples e proveitosa possível.

A terapia que se utiliza da hipnose dinâmica também é muito eficaz, porque ajuda o paciente a entrar em contato com o próprio eu, com a própria essência, com o seu inconsciente e, através da própria imaginação, o paciente é estimulado a ver e refazer os processos da mentira, corrigindo-os, até conseguir criar uma visualização correta e gravar essa última versão como a definitiva no próprio registro mental.

Alguns comportamentos e atitudes da comunicação não verbal ajudam a identificar gestos e sinais peculiares de alguém que está mentindo:

- A pessoa que mente não olha direto nos olhos, desvia o olhar com frequência.

- Os olhos piscam com maior frequência do que normalmente.

- Os movimentos corporais, especialmente a cabeça, são projetados para trás.

- Os membros, tanto os superiores quanto os inferiores, ficam cruzados permanentemente, alternando a postura, o cruzamento.

- As mãos ficam tremulas e frias.

- A respiração se torna mais ofegante, com suspiros longos e intensos.

- Quando descoberto, o mentiroso perde a naturalidade e assume atitudes mais exageradas e exuberantes. 

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